ANTIPOÉTICA
ANTIPOÉTICA
Sobrevivo num tempo sem rumo,
o mundo perdeu o prumo,
vaga no caos cego e mudo;
se arrumo,
vem o Bóreas e tudo desarranja.
Ó Madonnas!
das belas formas, dos corpos esculturais,
é finda a contemplação!
Hoje vejo mulheres siliconadas,
tetas infladas e bundas inflamadas,
apetite caquético, corpos esqueléticos.
Ó plastificadas! ó pobres coitadas,
esticadas, tudo pela escalada...
Ó Borges!
A narrativa da humanidade é finda,
o império dos fragmentos em cacarecos
é comparável a um horroroso entulho
que desembrulho
encharcado de sangue purulento,
lento, Léto... geração obsoleta.
Ó Joyce, tudo está muito bem perdido agora!
Eu sei, já anunciara em princípios do século de outrora,
arremessando o ponto fatal e sem sinal no romance,
afinal: massa falida, leitura desvalida;
prosa piorra, prosa no poluído,
corrompido, entupido...
Um estampido, porra!
Resenhasinha
asinha
da
sinhazinha
zinha
nha nha nha nha nha nha nha
Ó Sísifo!
A pedra desabou e se quebrou
em pedreiras de conhecimentos e relacionamentos.
Homens inventando trabalho:
É carta fora do baralho...
Que tormento!
Ser bem sucedido, bem fodido!
Muitas habilidades, beldades!
Operador de Telemarketing
marketando, martelando sem dor o crânio
do Analista de Mercado Sênior.
Carniça insepulta, catapultada
sociedade sem idade, o ódio ou o ócio...
Ergonomia:
trabalho que parte do nada
e ruma a lugar nenhum.
Eia, Bundão na Gestão de Projetos!
Um estilete no crânio dele, do abjeto,
Web Designer Pleno, obsceno!
Suas economias no caos, Bundão, administrador
do caolho, do caótico.
Ó Baudelaire!
A melancolia agoniza, vencida;
são tempos indecorosos,
um certeiro cinismo anima
as flores da malícia
e tudo alicia
e a poesia é imundície;
ninguém mais tece,
só aos solavancos as flores murchas
é que crescem
aos cifrões;
Os Vendilhões do Templo e
os da Academia que não Servem para Nada
somente a sucatear letras
à beira das sarjetas...
Mundo investido de Ares,
tudo pulula pelos ares,
língua tagarela,
comunica tudo, tudinho inho inho inho pro fiofozinho
e não nada diz nada, nada, nada nada Na
viagem em mares distantes
da Ilha Linguagem...
normadernonferno@dante.com
signos na tela comunicam,
tudo pinica nas telas e os signos
bestas-feras bota-fora língua tagarela,
eia, cadela!
Ó terra onde nasce a angústia da influenza,
coriza prosa agoniza
inverte o bordão e, eia! faz jorrar o cifrão!
Eis a terra d’onde tudo brota: maleita e merda!
A Terra das Letra e du grão, do dragão...
Terra de Lestrigões
comilões e cagões!
Ó Pound!
"Os Cantos" jaz lançado num canto desencanto...
Ó Musas, ó Ninfas, ó Deuses!
A magia,
o encantamento...
a humanidade prossegue arrebentando a
mágica vida;
ela sucumbe,
ela prepara uma hecatombe,
ela prepara a própria tumba
e nela está prestes a desabar.
Na lápide: ANTIPOÉTICA.
PROF. DR. SÍLVIO MEDEIROS
Campinas, é outono de 2007.