Amores ciganus

O amor desembesta, desenferruja, desencarde, desencarna,

faz o vento cair e bêbado, faz o medo fugir desembestado,

faz a dor cirandar até morrer.

O amor é cria, é crina, é hímen rompido,

palavra escusa, fugida, menina,

sangue surrado nas ribanceiras roucas da fé.

Amor é flâmula rasgada, passo de tango bizarro,

é cuspe jogado na rua com vergonha.

Amor é adeus, é gozo, é pena, é Deus,

faz os risos ficarem frouxos, faz o certo acordar mijado,

escolhe cada filho como se os levasse ao matadouro,

busca ar nas frestas fumegantes do sonho.

Amor é sina, é sino, é vida,

cada véu mostra suas ancas de donzela no cio,

cada porão esconde segredos que ninguém conta, ninguém.

Amor vai embora sem adeus, chega sem licença,

quando vemos já cremos,

quando esquecemos, lembramos,

quando temos, ciganos somos.

Amor é torta na cara, é dente cariado,

voto vencido, abraço ungido,

é aleluia e nada mais.

---------------------------------------

visite o meu site www.vidaescrita.com.br

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 04/10/2013
Código do texto: T4510410
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.