A nudez da poeta

Há um poema em mim

Um poema que me despe

como dedos previsíveis desbravando

imprevisíveis margens de profundos arrepios

Um poema que me diz com o desplante

de uma boca bebendo, sôfrega

a sua própria sede na boca da nascente

Um poema que rebenta, e jorra, e escreve

no leito do meu corpo, toda uma vida

É um poema que me lê e que deságua

com a imprudência natural de um rio

ao cingir o mar que o penetra

E que me atira à praia

trazendo na pele salgada

a assinatura da poeta

Uma poeta que murmura

nessa ressaca heterônima

dessa maré previsível

de um poema imprevisível

que me despe...e que me mostra

como realmente sou...

Francis Faria
Enviado por Francis Faria em 15/04/2007
Código do texto: T450649