A nudez da poeta
Há um poema em mim
Um poema que me despe
como dedos previsíveis desbravando
imprevisíveis margens de profundos arrepios
Um poema que me diz com o desplante
de uma boca bebendo, sôfrega
a sua própria sede na boca da nascente
Um poema que rebenta, e jorra, e escreve
no leito do meu corpo, toda uma vida
É um poema que me lê e que deságua
com a imprudência natural de um rio
ao cingir o mar que o penetra
E que me atira à praia
trazendo na pele salgada
a assinatura da poeta
Uma poeta que murmura
nessa ressaca heterônima
dessa maré previsível
de um poema imprevisível
que me despe...e que me mostra
como realmente sou...