[Esse olhar infatigável]

[Anotações ao poema de no. "159" - Álvaro de Campos/Fernando Pessoa:

...

Não, cansaço não é...

É eu estar existindo,

E também o mundo,

Com tudo aquilo que contém

Com tudo aquilo que nele se desdobra

E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais]

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Hoje sim... talvez amanhã não!

Sou um relógio quebrado:

tenho o defeito de registrar,

doentiamente, instâncias

de um tempo que fugiu,

e foge sempre...

[Nenhuma novidade!]

Palavras partidas, ou apenas

erupções de um eu dividido,

ou o olhar vazio de um tolo

parado numa qualquer esquina,

cansado de tanto olhar o trem passar,

deixando a habitualidade da cidade...

Ah, esse infatigável olhar,

a perversidade dessa janela

insistente, aberta para dentro,

e portanto, responsável sim,

pela paisagem que mal revela!

E como Pessoa, eu olho, eu vejo,

e digo: "Confesso: é cansaço!..."

Não há mais sabor;

o bagaço da cana [da vida]

perdeu toda a doçura;

a saliva escorre insípida,

e seca-se na aridez do tempo!

[De resto, nenhuma novidade:

eu já antevira tudo isso,

lá nas tardes do [meu] Chalé Amarelo.]

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[Desterro, 01 de outubro de 2013]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 01/10/2013
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