AUTO-BAMBOCHATA

AUTO-BAMBOCHATA

Cornetas tocam na minha entrada,

Pego os pinceis e a aquarela.

Escolho as tintas e as espátulas,

Coloco a tela sobre o cavalete.

No altar Nossa Senhora Aparecida,

Bastet, Buda e Ganesha,

Xangô e Oxum ao lado da Preta velha,

Terço ao lado de minhas guias de santo.

Descubro a tela que será pintada.

Na tela escolhida vejo um espelho,

Sem tinta e marcações na sua superfície.

Sem cuidado retiro meu nariz,

Deixo a peruca azul no chão.

Com removedor retiro o branco da pele,

O vermelho da boca é gritante

Ele é retirado e lavado com água e sabão.

A gravata enorme e o colarinho colorido,

Suspensório, camisa com flor na lapela,

Calça e cueca com corações estampados,

Tudo é jogado ao acaso pela sala.

Os gatos miam ao meu redor.

Meus cães abanam o rabo para mim.

Na tela espelho da vida vejo-me,

Uma auto bambochata surreal,

Uma pessoa tão normal com suas cicatrizes,

Mas quem não as tem?

Pinto a cena e dou risos do palhaço no espelho

Torno a me vestir e caminho para a vida.

André Zanarella 25-10-2012

Bambochata =

Pequeno quadro de costumes pitorescos,

No gênero dos que pintou Van Laer, chamado Il Bamboccio •.

André Zanarella
Enviado por André Zanarella em 01/10/2013
Código do texto: T4505960
Classificação de conteúdo: seguro