esboço biográfico
dias, horas, tarefas,
repetiam-se
há anos
caminhava na mesma rua
conversava com as mesmas pessoas
há anos
cego a repetir
os limites ficaram estreitos
na solidão
na compreensão
na caverna
em dias esquecidos
de silêncio e sombras
os mesmos versos todos os dias
na mesma cadeira, na mesma hora
todos os dias
sonho acordado, como por toda a vida,
todos os dias
à espera
como em todos os dias
todas as horas
nem a angústia, a oprimir o peito, convence
nem o medo, comparsa e conselheiro, assusta
assim há tanto tempo
sem mudar a direção
no moto-contínuo
viciado, à margem
a esperar
que a pedra irrompa
pelo caminho
no erro
no acaso
outro rumo
espera o milagre
o arco-íris e o último
pote de ouro
sem acordar
sem respirar
sem suspeitar
espera abrir nos olhos
um dia novo
e deixar as mãos queimar
ao sol
desconhecido