PRIMAVERA (do poeta HERMÍLIO PINHEIRO DE MACÊDO FILHO)
A "estação das flores" – Primavera -,
Encheu de vida e cores os meus dias,
Meu jardim da existência e fantasias
De inefável inocência que eu tivera.
A beleza da tarde se esmera
Quando o sol já não arde, e horas sombrias
Vão pelas madrugadas longas, frias,
E colorem alvoradas de quimera.
Primavera eu descubro, ora me lembro:
Eu sou botão de outubro, um lírio aberto,
Cravo no espinho a pétala discreta.
Brindo com vinho o lírico setembro,
Cheirando a flor, licor bebo já certo
De trazer-me o sabor de ser poeta.
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Hermílio:
Este soneto tem mesmo o sabor suave dos campos, a doçura da brisa que vem de tantos horizontes, e o tépido paladar do vinho no inconfundível ambiente d’ “A ‘estação das flores’ – Primavera -,”.
A cada estrofe se desenha aos nossos olhos todo um dia primaveril em que a natureza faz a permuta, espalhando-se ainda pelas “madrugadas longas, frias” e colorindo “alvoradas de quimeras”.
Esse vinho do “lírico setembro”, o cheiro das flores e o toque requintado do licor enobrecem a reflexão sobre a Primavera e garantem o “sabor de ser poeta”.
O soneto de matizado clássico-romântico sugere uma reunião de poetas em torno à mesa no momento em que a tarde finda e a rua parece ser uma pessoa que toca um violão e canta uma canção de amor à Primavera. Na esquina, quieta, eu ouço o poeta declamando este soneto.
Agradeço o privilégio de abrigar sua obra nesta página.
Meu abraço emocionado,
Tânia