[Talvez... Nunca!]

Talvez eu tivesse entornado, enfim,

aquela garrafa com um ramo de planta

que tentavas fazer renascer e crescer,

e que deixastes encostada no muro;

talvez eu tivesse cortado as tuas avencas,

por julgá-las leves, fracas, morrentes,

como [eu julgava] o teu amor por mim ;

talvez, num rasgo de ciúmes [infundados?],

eu tivesse jogado fora aquelas tuas cartas antigas;

... e quem sabe, num ato desesperado,

eu tivesse destruído o teu vaso de antúrios,

só por que ele me roubava a tua atenção;

talvez eu tentasse fazer de tudo, de tudo,

para que suprimisses aquelas repetidas

lágrimas silentes que eu nunca entendi;

talvez eu não mais jogasse em tua face

a dor da minha solidão indevassável;

talvez eu nem mais tentasse romper

o teu silêncio frio e obstinado

que tanto, tanto me agredia;

talvez eu conseguisse vencer o despeito

que me causava nem mesmo chegar a

entender os teus segredos de mulher;

Talvez... talvez... talvez... Ah, dor incessante!

Se me tivesses tido, como tanto querias,

e com tanto zelo [por mim] sonhastes,

o quê terias de mim... e a quem terias ao teu lado?

Talvez — como atestam o sofrimento

e os nossos lamentos —, talvez é nunca!

Fizemos bem em nos perdermos, enfim?

Nem a morte nos dará a resposta...

Nem a morte, de um, ou de outro!

Morre, como uma primavera que nem chegou a nascer,

a sonhada vida que poderia ter sido,

e que não foi — ficou somente num talvez,

um indeslindável e terno talvez...

_____________________________

[Desterro, 21 de setembro de 2013]

[Eu escrevo para celebrar a minha não-morte... mentira... verdade... mentira!]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 21/09/2013
Reeditado em 21/09/2013
Código do texto: T4492031
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2013. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.