[Talvez... Nunca!]
Talvez eu tivesse entornado, enfim,
aquela garrafa com um ramo de planta
que tentavas fazer renascer e crescer,
e que deixastes encostada no muro;
talvez eu tivesse cortado as tuas avencas,
por julgá-las leves, fracas, morrentes,
como [eu julgava] o teu amor por mim ;
talvez, num rasgo de ciúmes [infundados?],
eu tivesse jogado fora aquelas tuas cartas antigas;
... e quem sabe, num ato desesperado,
eu tivesse destruído o teu vaso de antúrios,
só por que ele me roubava a tua atenção;
talvez eu tentasse fazer de tudo, de tudo,
para que suprimisses aquelas repetidas
lágrimas silentes que eu nunca entendi;
talvez eu não mais jogasse em tua face
a dor da minha solidão indevassável;
talvez eu nem mais tentasse romper
o teu silêncio frio e obstinado
que tanto, tanto me agredia;
talvez eu conseguisse vencer o despeito
que me causava nem mesmo chegar a
entender os teus segredos de mulher;
Talvez... talvez... talvez... Ah, dor incessante!
Se me tivesses tido, como tanto querias,
e com tanto zelo [por mim] sonhastes,
o quê terias de mim... e a quem terias ao teu lado?
Talvez — como atestam o sofrimento
e os nossos lamentos —, talvez é nunca!
Fizemos bem em nos perdermos, enfim?
Nem a morte nos dará a resposta...
Nem a morte, de um, ou de outro!
Morre, como uma primavera que nem chegou a nascer,
a sonhada vida que poderia ter sido,
e que não foi — ficou somente num talvez,
um indeslindável e terno talvez...
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[Desterro, 21 de setembro de 2013]
[Eu escrevo para celebrar a minha não-morte... mentira... verdade... mentira!]