Arca

Quando os olhos de poesia tornam secos

e a boca o gozo espuma e o corpo intensa

outros édens de sentir, a alma desce

às videiras do infinito ensurdecido.

A arte um corpo ardente n'alma lume

e gesta do querer no sonho a brasa

das bodas de formar antes do tempo

a essência descarnada do sentido.

É o torque de sentir sem fluidez

nem terra, quiçá nenhum motivo

oculto nos festins da inspiração

afim de guardar-se os tons do vento.

E ousar entre os nós dos livros mortos

a antiga alquimia de um poema

que esconde por detrás da engenharia

a flama a debochar dos teoremas.

Por ser aquele mesmo atrevimento

catando verbos sujos nos invernos

daqueles que jamais verão o signo

que possa revelar o ser do verso.