Verbo de Fogo
A atávica urbe terrestre não represa já o verbo
que me escorre bisonho na voz silenciada do pranto...
Este Verbo de Fogo, a estrelejar na acidez da mais opaca
escuridão. Estrelas derribadas em antecipação
no linho alvo do meu leito tumular ...
Que me envolvem, sedutoras, permanentes,
em desequilibro triunfante. Loucura, alienação, amofinação ...
Tacteio o instinto testemunhado, destas escritas imperfeitas,
deste fado não cantado. São chuvas a cachoar, destemerárias,
chuvas grossas, gregárias, na lubricidade e na concupiscência,
dum Ser tresloucado.
Salinidades acres de desejo do teu corpo
no meu corpo colado ... no mais louco, sagrado pecado,
onde este verbo fogueado, encontra o rebuliço do assombro.
(E acordar apaziguada, na calda morna do teu ombro ...
Ouvir o tic-tac, estrídulo e agigantado, do teu coração alado
no lusco-fusco cruzado da mais alta madrugada).
Este Verbo Fogo, é engodo devorador a rodopiar
num Tango de Piazola ou Gardel, na minha pele retalhada,
nesta casca enrugada tal ancestral pergaminho.
Verbo Fogo, canta-me então, na dança infinita dos corpos
em selváticas turbas, nas argênteas ou nas plúmbeas,
cataratas nublosas.
(Desfolhas-me perene, em pétalas de rosas...)
Sentada no baloiço de frágua, rebusco o perdido equilíbrio
em catadupas de primitivas palavras...