MULHER

Ser mulher

É não querer do mundo

Jamais provar apenas

Uma colher,

Muito menos

Deixar de sofrer

A dor ao gozar

De prazer.

Ser mulher

É matar em si

Quem se troca

Por uma vida qualquer,

É ser o que se quer ser,

Mulher, desejo fundo

De jamais ser mãe

Senão de um novo mundo,

É querer ser muito mais,

Amar meninos

E vagabundos,

Poetas e assassinos,

Ser mulher

É coser

Para emaranhar-nos

Inda mais no querer,

Ser mulher:

Madalena, Lilith

Ou Helena a amar-nos

Como hiena ou menina,

Ah mulher,

São luas cheias

Tuas nádegas

E minha boca as pleiteia!

Ah mulher,

Esparjo-me

No teu seio e sexo

Sedento e gago.

Ah, e minha língua

Bebe teu gozo e saliva

Toda a vida

Que em ti nunca míngua!

E nos teus cabelos

Sorvo o perfume

Que me transporta

Aos altos cumes...

Sorvo tudo

Em longos haustos

O teu corpo desnudo

Onde me farto exausto.

É alongado espasmo

O meu gozo

É cair, transe, orgasmo,

Num fundo poço.

E quando descanso

Enfim

É porque te traduziste

Em mim...

E só descanso

Quando sei

Que foste além da colher

Que te impede mulher!

Quando sei

Que enfim

Cumpriste o teu mister

E te tornaste, sim!, a Mulher.

E o teu mister

É amar,

É querer beber

Todo o mar!

É saciar

Desejos inconfessos,

É quebrar

Os votos professos,

É rezar

Para o Diabo

E deixar que te amem

Toda, de cabo a rabo!

Ah mulher,

Que fizeste?

Estamos nus

E é a nossa nudez o que nos veste.

Mulher,

Que fizeste

Senão amar tanto

Santos e cafajestes,

A ver neste chão

No qual piso

Tudo que é sublime

E celeste?

Ah mulher!