REGISTRO TATUADO

Não bebo o ópio

do fim da tarde senhora

de babados rendados amarrotados

com cheiro de suor e gasolina...

Bebo a sina, na esquina, de músculos

sob o sol da primavera

esverdeando a grama

que devoro em compassos

sobre a corda imaginária

que samba o meu corpo...

Não beijo seus dedos em carne viva

porque quero a vida em mim,

em dedos, dedilhando sobre meu rosto

a delicada existência em incenso.

Dispenso o bom senso,

sou ateu,

me ato em seus fios metais

me meto em seus lençóis

e beijo o doce veneno

latente entre os dentes

que a minha carne corta...

Não bebo na copa

para não sujar o tempo

nem perder a cena...

contraceno a todo momento

com o enredo inacabado

crio vários clímax

enquanto o sol se desponta

e o cheiro de fim de tarde se dispersa

com a fumaça de meu cigarro.

Não bebo em taça, só nos lábios

para que o gosto do vinho perpetue

em nós como tatuagem.