Se
Se eu fizesse uma última poesia
Nela não pintaria ilusões.
Ela pouco diria do que sou ou fui
Quase nada sobre o amor, falaria.
Desacorrentaria almas nas prisões.
Esqueceria de mim nesse instante.
A poesia seria mais que uma dor
Seria um grito sem alegria
Milhões de exclamações!
Sem ilustrações deslumbrantes.
Da alma, soltaria todo clamor.
Apelos e mágoas nela derramaria.
Lamentaria pela humanidade
Nas pisadas doloridas em pedras
Sempre em vão em busca da paz.
Ao que chamamos vida de poeta
Eu chamaria infinita insatisfação
Descontentamento pelo jamais.
O poeta não vive, anseia. Ele quer
Sempre corrigir o mundo
Nunca contenta-se com a sua visão.
Só quer o que esconde bem dentro
Do seu coração. Desejos mais fundos.
Sensíveis, loucos poetas!
Na própria absurda escuridão
Desenham mentalmente a resta.
Morrendo aos poucos, sem a solução.