Ser fragmentado!
Sei que jamais serei um Pessoa
Mas também não desejo metafísica
Só o vazio sincero de mim mesmo
Com toda a deformidade de meu ser
No vazio profundo da campina
Em que depositaram meus avôs
Dos ossos descarnados e frios
De há muito cansados e gastos
Onde apenas esperam por mim
Que cumpro, contrariado a sina
Do viver andejo sem tino ou freio
De gaúcho sem pingo ou arreio
Longe da pátria em que nasceu,
Essa que trago dentro do peito,
Onde eu sei, que logo morrerei
Razão profunda de toda a vida.
Meu anseio de ser novamente eu
Ser errante pelas campinas verdes
Com um olhar profundo e ávido
De repousar onde mirava o infante
Perdido neste vazio imemorial
De um tempo que tudo desgasta
Nessa jornada que não interessa
Pois espero, só meu passamento
Afora isso, para mim é só o vento
Para acariciar uma tez enrugada
Que não reflete o pouco que vivi
Em um mundo que já não aflige
O transcorrer do tempo não assusta
Pois parece o linimento das dores
Que mais desta vez eu não sofri
Pois experimentei apenas o fugaz
Abandono sem ter sido abandonado
Amor sem nunca ter sido amado
Rancor sem nem saber por quem
E essa falta da alma que já se foi
Deixando para trás a carcaça inútil
De carnes prontas para a putrefação
Olhos vitrificados sem sentir paixão
E de ossos carcomidos como giz
Foi disso que da minha vida eu fiz
Um pó que sequer levarei daqui
Átimos de felicidade que não vivi
Se pudesse querer-ia só uma gota
Para inundar o mar de melancolia
Essa que habitava uma alma já rota
Do amor eu não queria um vintém
Pois é uma dádiva cara a quem tem
Prefiro não repartir a ceia já pouca
Pois na vida não há felicidade
Tampouco o amor pode ser verdade
Só tristeza, morte e desventura
Aqui, neste mundo de amargura
Já não há lugar para um’alma pura!
Porto Velho, RO, 19 Set 2013.