EU TE ODEIO
Eu te odeio porque me oprimes de todas as formas imagináveis.
Eu te odeio, sim, imensamente, porque me fazes tormento dia e noite
como um anjo mau de múltiplos sorrisos.
Eu te odeio porque sabes rir com os olhos muito mais que com os lábios e porque teus sorrisos me fazem perder o que resta de sanidade.
Eu te odeio porque a um só toque de tuas mãos eu poderia me queimar
e sentir dor até o amanhecer.
Eu te odeio porque roubaste o melhor de mim desde que entrou sorrateiramente pela janela de minha alma.
Eu te odeio porque tudo o que fazes é encantar meus olhos desventurados de poeta ridículo com tua absurda paisagem.
Eu te odeio porque me entorpeces como uma droga, me deixa dependente de um simples aceno e, em tudo isso, me prendes como um animal numa jaula, um pássaro numa gaiola, um peixe num aquário...
Eu te odeio porque, contudo, inda não sou um completo rejeitado, pois não me pisas a cabeça para acabar de vez comigo, mas preferes, simplesmente, me matar aos poucos...
Eu te odeio porque és um verso, uma ideia, uma música, que não me sai do pensamento...
Eu te odeio porque não sou mais o mesmo que eu era desde que chegou o inverno que tu és ainda que flor...
Eu te odeio porque és céu sem tempestade e, por isso, não chove o bastante para fazer brotar os abrolhos que poriam fim ao meu jardim insistente...
Eu te odeio, enfim,
eu te odeio, porque tua perfeição me assusta e eu não aprendi a amar ainda o que é tão perfeito.