IMPÉRIO DA ESPERANÇA
Já comprei uma dentadura que é pros dias que virão,
engoli toda a amargura, amarguei a ingratidão,
do meu grito sufocado fiz tão doce desventura,
do silêncio que carrego fiz a prece que perdura.
Fiz do choro um acalanto e no aconchego da tristeza,
fingi não ouvir a fome roncando embaixo da mesa.
O país que tanto almejo e sonho sobre meu leito,
a segurar o chicote dá no dorso e fere o peito.
Arranquei forças na luta que quis fazer-me de réu,
fui meu algoz insensato, perverso triste, cruel.
Montado na ditadura vi nascer democracia,
mas ainda está bem longe de chegar aonde eu queria.
Quem for de paz que me siga, pra cantar minha cantiga,
quem não for que trave a luta que acabou de arrumar briga.
Natureza, fauna e flora defendo e sou persistente,
empunhando a poesia que me fez um combatente.
Meu canto em cada canto canto deixando um refrão,
na lembrança que embalança a ilusão desse meu povo.
Me orgulho dessa gente que engrandece essa nação,
driblando a sobrevivência esperando um tempo novo,
tendo a fé como bengala e a esperança na voz,
mas se é cada um por si, que será de todos nós?
Tento um abraço apertado buscando calor humano,
mas só encontro desalento algemado ao desengano.
Empunho as armas que tenho no combate à tirania,
verso amargo que apunhala, canto forte que arrepia,
flechando a indiferença que incomoda a todo instante,
porém palavras e sangue parece não ser bastante.
Tanta dor que descompasso, fere até a poesia,
busco amor por onde passo, mas volto de mão vazia.
Saulo Campos – Itabira MG