[Sensaboria e Desejo]

Pergunta difícil: "Carlos, você gosta de quê!?"... Pensamentos vários atropelaram as minhas palavras; e eu não disse nada... Nada?! Ah, então é isso... acho que eu gosto é de "nada"! Mentira... será?

Às vezes, eu penso: será que eu perdi a ponta da meada do gostar, o fio mágico do prazer?! Assim, de bate-pronto, não sei dizer do que gosto; a mente não se foca num certo objeto de prazer... A mente voa... talvez, mais que um "ser-objeto", busque um tempo, um aroma, um lugar impossível, como são todos os lugares de ter prazer, um lugar de estar com... será? Pensamentos em revolta de cobra mal-matada; sei de nada; perdi-me, faz tempo!

Agora, sinto-me assim: parece que as águas do mundo lavam a minha boca, e fica, de tudo que provo, uma sensaboria só... o que eu faço de mim?! Deceparam a minha arrogância: ensinaram-me que, de tudo, o que eu mais desejo, é o desejo do outro... Nada mais elusivo!

Olhos em brasa, eu ainda trafego pela noite do mundo, eu quero, eu desejo... Apisoado, maltratado por essa fraqueza, tornei-me um trapo carente, um dependente de... [ou um rematado egoísta?]. Agora, eu anseio, eu estendo a mão, eu grito, eu ofereço o meu desejo, o meu gozo, o meu momento de-nem-ser mais... Eu procuro a perdida intersecção de mim, de meu mundo com... com quem?! Ah, e quem não põe numa linda bandeja o seu desejo de mim, quem não se oferta, e não aceita a minha oferenda, é só uma disjunção a mais, não me serve... e eu lhe sirvo menos ainda!

Por tudo isto que confessei, das águas que passam por mim, eu bebo apenas a recusa de quem não deseja o meu desejo, essa é sensaboria atroz de todas as águas que não matam a sede, a interminável danação de Tântalo em seu suplício... sensaboria, sensaboria só...

Como assim, de que eu gosto?! Será que não fui claro sobre o meu gostar? Desafio as minhas próprias palavras!

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[Desterro, 16 de setembro de 2013]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 17/09/2013
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