[O corpo em revolta]
No desacerto entre a leveza do lençol de cobrir
e a espessura macia da colcha de algodão,
consolo [não] ideal para a meia-estação,
revolve-se o meu corpo que mal-dorme...
Tento em vão me apaziguar no sono
[“dorme que passa, meu filho!”],
mas, ora sonho, ora acordo;
ou, ora acordo e sonho também,
de olhos no teto, e este corpo
memorioso, a arder em chamas...
Que sonho infernal é esse,
que mesmo depois de tantos anos,
não me deixa em paz?
Paz... que paz... como pode
haver paz numa falta de compromisso
com a felicidade, com o prazer?!
Qual paz... como pode haver paz
depois de rompido o pacto
[frágil?] de um encontro único?
E vem a longa madrugada...
Insone, o corpo em revolta
senta-se na cama; busca o chão
para conectar-se à [sua] realidade.
Depois, deambula entre o silêncio
dos móveis e o grito da consciência.
[Não é nada... nada não — é apenas
mais uma vida fútil a escoar pelo ralo...]
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[Desterro, 15 de setembro de 2013]