Penso
Penso
E logo vejo o desejo
da chegada
da partada
da estrangulada
Penso
na menina que saiu de casa para a escola
que o vestido azul banhava a pele clara
do sorriso carente de pai
que numa noite a roubou
Penso
na certeza que um dia irá crescer
e ver que sua mãe nada tem
além da coragem e do sofrimento no rosto marcado pelo sol ardente dos dias
que borra o rosto quando pensa no futuro da filha
Penso
na certeza cruel que veste o mundo em dia de Natal
em que nem em Papai Noel acreditam mais
na essência que fora cortada, marcada, dilacerada e estrangulada
e nos raios do sol, ambas esperam esperança e comida
Penso
na beleza e nas grandezas do mundo
nas tantas pessoas boas que morrem em vão
que embalam-se sem quererem ir
mas na certeza do vão, vão
Penso
penso tanto, que deixo de existir
em pensar que um dia o futuro dela poderá nunca existir
pois acredito na beleza e nas sutilezas das boas ações
mas vejo na dura e árdua convivência que o homem é capaz de matar, para se salvar.
Penso
E peço que estas palavras passem apenas por literatura
da alma quieta, amena, brota as mais estranhas loucuras
do coração amante, as mais sinceras paixões
e da mente doentia, o fim de muitas vidas, o rasgar de muitos balões que guardam os melhores sonhos.