Estação das flores
Lá vem o trem, com seus berembebêns
Lá vem o doce, com a vontade da água
Lá vem a menina, com seu vestido rodeado, pinçado
Lá vem o saudoso senhor com sua muleta, com a careca que parece raspada
Lá vem o cachorro, com a baba quase caída, melosa, esculpida
Lá vem a senhora viúva, com suas vestes tristes, e o olhar congelado, também entristecido
Lá vêm as crianças, disputando quem segura a mão da mãe, pois a outra comporta as malas da viagem, cheias de desejos prósperos
Lá vem o trem, borrifando fumaça por todo o caminho
A parada é logo ali, quando o sol se deitar, o anoitecer acordar
Corre trem, corre, corre
Corre nos trilhos, entre as pedras, entre tantas árvores cortadas, deitadas em teus pés
sobe, desce, encosta, curva-se trem, segue...
Segue trem, assim como o desejo dos teus passageiros de chegarem a seus destinos
Lá vem o começo da chegada, da luz no fim do túnel
O trem passa dentro do túnel e já todos avistam as flores que mesmo em clima noturno espelham a beleza da lua
Flores brancas, vermelhas, amarelas, laranjas e róseas, de todas as cores, para todos os gostos
A velocidade começa a diminuir e o trem a se curvar com o vento que entra pelas janelas e embaraça os cabelos que soltos estão
As crianças já adormecidas começam a entender que o destino chega
E as bolsas começam a serem suspensas, sapatos calçados e mão nos cabelos começam a tentar arrumar os efeitos dos ventos corridos naqueles vagões
As luzes vistas como estrelas começam a crescer na medida em que ele se aproxima da estação, que de flores se torna única
Com seus cheiros, torna-se uma perfumaria ao ar livre
E Lá vem o trem, rasgando o véu da chegada
Chegou o trem, portas abertas! Gritou o comandante
A buzina alta e típica é acionada
As preces são dadas, em agradecimento pela chegada
E o trem se desfaz das pessoas, na bela e cheirosa Estação das Flores, ao lado da Estação dos Sonhos, no mundo imaginário do meu eu - lírico viajante
Que rasga caminhos, em busca de estações, passageiros e histórias.