O POETA E AS PALAVRAS [1]
Ah, a magia das palavras
Que dançam na página em branco do poeta!
Alma viajante, olhar sonhador,
Ele as transcreve,
Ora letárgico, por vezes enlouquecido,
Ao ritmo de um toque de tambor
Ou das notas delicadas de uma harpa.
Verte sobre o papel, fiel sentinela,
Sentimentos doces ou atormentados,
Penas, alegrias, dor ou paixão,
Os desejos frustrados,
Os tempos de ternura,
Revolta ou lucubração,
Palavras quiçá indecisas
Na ponta hábil e afilada de um lápis,
Pronto para seu ofício.
O poeta apura olhos, ouvidos, dedos,
Vasculha livros, dicionário, coração.
Pesquisa as palavras.
Escolhe-as.
Testa-as.
Alisa-as.
Namora-as.
Rebeldes, não raro fogem das frases,
Mascaram-lhe a identidade,
Implicam, ciumentas, umas com as outras.
São musas caprichosas!
E o poeta não sabe qual eleger, a qual dar razão...
Hiato.
Hibernação.
Onde está aquela que lhe fugiu?
Por baixo das outras folhas de papel?
No pergaminho puído da sua vida?
Quisera achar a palavra precisa,
Espelho da sua emoção.
Revolve gavetas, bolsos, os papéis amassados,
Os meandros da alma.
Angustiado, as mãos em desespero,
Derrama orvalho sobre as já escritas
E lhes embaça o curso...
(Borradas, não são mais o que eram...
Juntam-se às desertoras...).
Mais uma noite de caça e agonia.
Olhos vermelhos.