NINGUEM ESCAPA DA AURORA
Lábios selados
E tão vasto teu silencio que não ouço o trovão
E tão profundo e tão tenso que não sinto a chuva
Olhar perdido
Sem imagens sem visões sem horizontes
Quisera eu entender teu coração
Navegar seguro nos estranhos mares do teu viver
O que espreita nestes mares?
Haverão monstros abissais em fossas insuspeitas do teu ser?
Uma parte da noite é o que tens contigo
A treva que deu origem a treva presa a tua alma
Inundando você
Teu peito...
Fluindo em teu sangue
O que foi que você aprendeu?
O que te ensinou este mundo complicado e selvagem que escolheste pra ser teu?
O que lhe disseram as sujas esquinas?
Que conselhos tinham pra você as garrafas do bar?
Qual é a lógica da sabedoria do bêbado?
Que lições tinham pra ti as putas, os cafetões e os drogados?
Sabedoria...
Sabedoria?
Não posso julgar
Ninguém pode...
Mas não há noite que não acabe
Ninguém escapa da aurora
Ninguém...
Sentada em alguma sarjeta moral de tuas escolhas
Tens tempo de derramar tuas lagrimas e revisitar teus engodos
Enquanto ao longe o sol inclemente traz de volta o dia que não liga pra você
Traz a aurora.