Retrato

Rufino ia ser pai

Tinha sonhos e destino

Já havia escolhido um nome

Ia se chamar salário mínimo.

Trabalhava feito um louco

Sujeito de coragem

Sangue de caboclo,

Mas o salário que ganhava

Era tão pouco.

Entre bens materiais

Tinha um rádio de pilha

Que falava o português fluente

Excelente uma maravilha.

Pegava as notícias da hora

Assassinatos quadrilhas

E raramente se calava

Com a corrupção de Brasília.

Rufino, profissional completo

Encanador, pedreiro arquiteto

Ele era fora de série

Havia estudado a quinta série

Deixou os estudos incompletos.

Era curioso inteligente

Mas sentia fome nos dentes

Dentes? Apenas seis

Ocre e careado

No abismo da boca

Três de cada lado

Para triturar a sopa.

Assim era Rufino

Parecia peregrino

Trabalhava o ano inteiro

Afinal desses milhões de Brasileiro.

Sujeito honrado e nobre

Só era pobre

Mas vizinho de estimação.

Não tinha mente perversa

Quando se preocupava

Ficava em vigília

Chegava época de eleição

Caía na conversa

Dos homens de Brasília.

Votava sempre nos mesmos

Quando vinha o amanhã

Ele sentava em seu divã

E na mesma situação

Imaginava...

O que mais lhe restara

Além de vergonha na cara.

Francisco Assis é poeta e Bombeiro militar

Email: assislike1@hotmail.com

maninhu
Enviado por maninhu em 12/09/2013
Código do texto: T4478743
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