Retrato
Rufino ia ser pai
Tinha sonhos e destino
Já havia escolhido um nome
Ia se chamar salário mínimo.
Trabalhava feito um louco
Sujeito de coragem
Sangue de caboclo,
Mas o salário que ganhava
Era tão pouco.
Entre bens materiais
Tinha um rádio de pilha
Que falava o português fluente
Excelente uma maravilha.
Pegava as notícias da hora
Assassinatos quadrilhas
E raramente se calava
Com a corrupção de Brasília.
Rufino, profissional completo
Encanador, pedreiro arquiteto
Ele era fora de série
Havia estudado a quinta série
Deixou os estudos incompletos.
Era curioso inteligente
Mas sentia fome nos dentes
Dentes? Apenas seis
Ocre e careado
No abismo da boca
Três de cada lado
Para triturar a sopa.
Assim era Rufino
Parecia peregrino
Trabalhava o ano inteiro
Afinal desses milhões de Brasileiro.
Sujeito honrado e nobre
Só era pobre
Mas vizinho de estimação.
Não tinha mente perversa
Quando se preocupava
Ficava em vigília
Chegava época de eleição
Caía na conversa
Dos homens de Brasília.
Votava sempre nos mesmos
Quando vinha o amanhã
Ele sentava em seu divã
E na mesma situação
Imaginava...
O que mais lhe restara
Além de vergonha na cara.
Francisco Assis é poeta e Bombeiro militar
Email: assislike1@hotmail.com