A prostituta e o pacote de pão
Uma prostituta se senta na sarjeta
Estanca a hemorragia nasal com um pacote de pão
Que estava a dar
Voos rasantes no chão
"Sorria sempre", ela leu no outdoor
Mas era só a propaganda de um dentista
A prostituta acendeu uma xepa
De um cigarro preto feito carvão
Que até mais parecia
Uma pedra no chão
"O sol vai voltar", disse o carro de som que passava
Mas era só uma propaganda de cosméticos
A prostituta coçou a virilha suada
Por debaixo da saia imunda
Quem não se deixa derrubar pela vida
Acaba vivendo corcunda
"Viver é morrer", dizia a pichação no alto do prédio
Mas aquilo era só uma verdade
Num mundo onde a morte é para a vida
O único remédio