DO AMOR QUE MATA
Diz que ama a terra,
mas enterra nela seu povo.
O corvo perverso e faminto
mente e traz na mente
apenas maldades e trapaças,
nas taças, sangue e água perrier.
Diz que ama a terra,
mas a guerra é o seu deleite,
o enfeite de seus sonhos
é ver gente morrendo.
E assim vai vendendo
uma ovelha a cada dia,
um rebanho a cada ano...
Como, assim, ama a terra?
Gente também é terra
e não se ama pela metade
o que só existe se completo.
Diz que ama a terra,
mas como propriedade,
sem pessoas,
no máximo ama os arbustos,
riachos e lagos artificiais,
tudo devidamente cercado,
seco farpadamente roubado
de quem é filho da terra.
Diz que ama a terra,
o dono das almas, das árvores,
dos sonhos, dos destinos
dos meninos gris
que engraxam seus sapatos.
O dono da fé e da feira,
sobre as caveiras ergueu
seu reinado, este que é
a terra por ele amada;
terra concreta, repleta
de famílias emparedadas.
Diz que ama a terra,
E que maldade nisso há?
Pode ele chamar de amor
o que só sabe matar?