Artistas da Vida
Está lá. Que branca e nua,
como um papel sem poesia:
eis a tela dessa vida
sem cores nem fantasia;
mais além, eis o artista
— namora a tela vazia —
traz no coração um mundo
que sobre a tela recria...
(Um rio de sonhos remansa,
entrecortando as paisagens;
um sol, que reflete e dança,
mergulha e depois descansa
quase ofegante nas margens...)
e o coração desse artista
também sensível mergulha;
a tela da vida o envolve,
o rio de sonhos devolve
a sensação de esperança.
Vai arte, levando o artista
envolto pelas paisagens,
num balé, que sonha e dança,
mergulha e depois descansa
quase ofegante nas margens...
Está lá. Que grande artista!
Nas cores da fantasia
cumpre o papel dessa vida
às vezes triste e vazia...
Artista! Somos artistas,
criando a própria paisagem,
aquela que o olhar avista
quando criamos coragem.
Somos artistas da vida,
buscando luzes e cores,
ferindo a mão nos espinhos,
querendo tocar as flores.
Somos artistas de fato
e o mundo, uma galeria.
Quem não sonha simplesmente
contempla a tela vazia;
quem não sonha vive um mundo
sem cores nem fantasia;
quem não sonha fica às margens
com medo da própria imagem,
morrendo dia após dia...
Somos artistas da vida,
tingindo a tela vazia;
somos artistas e o mundo,
nossa imensa galeria!
Embu das Artes-SP, 05/02/1994