O DESEJO NA RUA DO OBSERVATÓRIO
O desejo, cambaleante,
desce as escadas velhas e caladas
do sobrado de uma rua
do Recife Antigo, do recife de sempre, de ontem e de hoje.
E alça o mundo
ocupa a rua,
a noite,
a vida.
E em delírio mágico de fogo ardente
caminha nu pelos
becos e assombros da cidade.
O desejo em pele e em êxtase, animal,
cai na calçada
que não é pública
porque o público faltou ao espetáculo do desejo.
E ele olha
as estrelas,
a frieza da noite,
e quer e sonha.
E o desejo do desejo se amarra
ao ar, ao tempo
ao estar ali: só e quieto deitado na rua nua e escura
Com o corpo exposto á vida: a vida do desejo.
O silêncio
de vida na rua.
Embrutece o desejo
que calado permanece a olhar
e sentir a ausência de si
que só deseja e deseja apenas.