Mais um Blá
Para onde olho, vejo apenas pessoas mortas.
Descendo elevadores de shoppings com dúzias de sacolas
Eu olho e penso: morto.
Mordendo o resto triturado, moído, esmagado e frito
De um animal
Estão as pessoas que daqui a menos de meio século estarão mortas Mortas, enterradas e esquecidas.
Arrancando os cabelos do cu com pinça de stress
Por causa da faculdade, olhando o celular, elas atravessam a rua
Sem olhar para os lados; por sorte ou azar, na hora seguinte
Poderão ter os parentes e amigos pranteando o corpo num necrotério.
Com bolsas pretas e inchadas sob os olhos
Estão as pessoas que odeiam viver a vida com poucas horas de sono
Se esquecendo que a eternidade reserva um confortável leito
Estendido para todos.
Eu, roendo uma maçã com o miolo marrom, apodrecido
Pensando naqueles que expurgam seu sofrimento existencial em poesia
Estalo muxoxos seguidos.
Esse monte risível de esperança de mudança, de revolução: para quê?
Não saber de nada e nada saber.
Apenas esperar o abate.
Preenchendo esse vazio com qualquer estofo de felicidade que aparece.
Essa.
É.
A vida.