Mar Morto

Dos morros as palafitas/

São jovens e moças malditas/

Que acostumados a sofrer/

Esperavam do céu o seu viver/

Como só acontecia o sol e a chuva/

Como só sentiam o suor e as lágrimas/

Procuram em suas necessidades/

A força para se erguer/

Encontram agora como sobreviver/

Ouviam a paz e o prazer/

Assistiam tudo como você/

O tempo passou/

A ditadura deu a luz ao alvorecer/

Caiu o muro de Berlim/

O vermelho ficou pálido/

Muitos perderam o poder/

A escola já não ensina/

A polícia já não protege/

A corrupção é quem elege/

Todos começam a ver/

O direito de ser como você/

O que vale é viver/

Se não tem água pega água da chuva/

Se não tem pão come do lixão/

Se não tem teto ivande-se os concretos/

É cada um pelo seu chão/

Pó/Capital/Prostituição...

Já não há pudor não/

Se a lei é omissa/

Nessa cidade cão/

Qualquer um pode virar carniça/

Não tem coração/

Não tem mais aquela fantasia/

De João e Maria/

Branca de Neve e os sete anões/

É cada um na esquina/

Amanhã/

Que sabe da razão?

O que se tem para o momento/

É garantir- se na situação.