IRRESOLUTO ***(Resposta à canção de Chico Buarque, "O que será")
Seja lá o que for, meu amigo Chico,
Ninguém conhece e nem saberá.
O que o inconsciente esconde e não destranca,
O que nas almas está a doer agora ,
Do que ficou, ou o de quem já foi embora,
Do que não se deu, ou do que reclama ,
Daquele que é vil, ou o de boa fama,
Do que tem futuro, ou o que a morte chama,
Do que pergunta e não tem respostas,
Nem nunca terá,
Do que aposta nos sentimentos,
Do que se angustia com essa dúvida,
Aniquilado, vendo passar as horas,
Sem saber o que será que será...
Que guarda a vida e o que guardamos nela,
E o que levamos para o infinito,
Até que o tempo sopre sobre essa vela,
Ou que essa chama o incendeie.
Seja lá o que for, Chico Buarque,
Ninguém saberá do sentido oculto desse discurso,
E não verá nas entrelinhas, palavras mudas,
de quem não sabe e jamais saberá,
Se a verdade um dia vem se revelará,
Se a escuridão das mentes se dissipará,
Se a inconsistência do que se afirma,
E do que se nega, e se confirmará
Será a semente de consciência ou nunca será?
Do que não tem respostas e nunca terá,
Do que aposta nos sentimentos ,
E se afoga num mar de lágrimas,
Sem saber se o que será, será
Uma resposta ao que nem perguntamos ou nunca será,
Pergunta que não respondemos ou nunca será,
Se um dia todo o sonho se realizará,
Se o cantar será de alegria ou um lamento,
Dos que se escondem no que fazem e não sentem,
Daqueles que sentem e quase morrem,
Que com a cara no travesseiro em suas masmorras,
Fingem dormir tranquilos e que não se importam,
Se , seja lá o que for, pra sempre será
Se o sono vem, se amanhecerá,
Se o que faz viver é o que balança árvores e cortinas
E lhe entra pelas narinas
Ou se são as incertezas...