O VÔO DA GARÇA

Era uma vez uma garça

que sonhava conhecer outros mundos

que sabia existirem longe, bem longe,

além fronteiras...

A cada dia alçava vôo

e pesquisava, pesquisava.

Voltava ao entardecer.

Ficava a pensar no que haveria do outro lado.

Mas que lado?

Sempre que voava, era um vácuo sem fim.

Subia, subia, e nada.

Aqui existia o ar, que a fazia voar.

A água, na qual se deliciava em banhos

e que lhe dava peixinhos dourados p'ra bicar.

Existia a terra fofa cheia de verdes e de cheiros

que lhe enchiam os olhos e a alma,

se é que alma possuía.

E também o fogo, que maldoso,

já vira destruir florestas inteiras sem dó.

Mas, e lá em cima, o que seria?

O que haveria de ter além daquelas alturas

que formavam o azul tão intenso

visto aqui de baixo?

Seria alguma substância? Éter, como diziam alguns?

Por isso voava, voava, voava...

Cada vez mais alto para descobrir

e ganhar aquele mundo desconhecido.

E sempre voltava.

Um dia, quando o sol ainda não havia despertado,

resolveu empreender mais cedo sua viagem.

Desceu à lagoa, fartou-se de peixes,

conversou com as borboletas,

aplaudiu o coral das abelhinhas

que buscavam nas flores o néctar.

Aspirou o ar impregnado do aroma da primavera

e voou.

Voou longe, longe, até sumir no azul dos céus.

Não voltou mais.

Se encontrou o mundo que buscava, jamais saberemos.

Levou consigo o segredo do outro lado.

Aquele lado que jamais mortal algum

haverá de conhecer!

Simplesmente Romântica
Enviado por Simplesmente Romântica em 04/09/2013
Reeditado em 04/09/2013
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