Sortilégio
Ando estranho...
Sofrendo de insônia em todo plenilúnio.
Não sei se é maldição ou é encanto
a poesia uivar em mim
quando a lua se completa.
Sofro crises de maré
em compulsões de partitura
qual se os nervos distendidos
fossem cordas musicais.
Um desígnio noturno,
que de sempre desconheço,
apodera-se de mim
com violinos e punhais.
O que pulsa se derrama
em idioma trespassado
por adagas de luar.
Deve ser por sortilégio
que nasci na lua cheia
quando o mar se desconsola
e transborda melodia,
quando a lua se infiltra
pelas frestas nos casebres
e apunhala com ternura
os romances de arrabalde.
Não detenho esse domínio
que me leva ao desatino
de varar a madrugada
com a pena em prontidão
porque sina não se molda,
nos arrasta pela vida
pra cumprir o seu papel,
pra esculpir sobre o papel
o desejo da palavra.
Ah, e de tanta noite imposta
com a janela escancarada,
tenho a lua no espelho
a rondar a minha insônia...