INDAGAÇÕES
(SEXTINA)
Tanta coisa se perde onde me encontro
e tão vazio fico em consequência
que vai-se o sentimento em mim findando,
tornando-me mais rude e sem afeto...
Quando deixei a infância (me pergunto)
eu me tornei maduro ou foi mais duro?!
Por certo o coração ficou mais duro
e a alma triste, sem ter mais encontro...
O que mais tenho? O que mais sou? Pergunto,
e, perguntando, sinto, em consequência,
um arrepio frio em que me afeto,
enquanto o sol se vai no céu findando...
Não é difícil ver o sol findando
quando ele é o próprio amor que, ao peito duro,
ainda bate, à espera de que o afeto
tenha restado e vá ao seu encontro
para brindarem toda a consequência
que então derrotariam?! Me pergunto.
Nesse impasse, de novo, me pergunto:
Por que é que as coisas boas vão findando?
Por que, se há, disso, tanta consequência?
Por que é que o coração fica tão duro?
Só pra quebrar o amor que vai de encontro
para abrandá-lo com seu doce afeto?
Ah, bom seria que esse mesmo afeto
voltasse a este peito ao qual pergunto,
e, então, fosse de manso ao meu encontro
e que a dureza fosse em mim findando
trazendo mansidão ao peito duro
e o amor voltasse como consequência!
Como é ruim de um fato a consequência
não ser como sonhada, eu já me afeto,
será o meu destino, eu me pergunto,
ter transformado o peito e ser tão duro
e no estado tristonho em que me encontro
deixar que se me vá o amor findando?
mas disso não encontro a consequência;
apenas, me findando todo afeto,
enfim não mais pergunto, pois sou duro.