CANÇÃO DA NOITE
A tarde traz consigo o abismo.
Uma anomalia chamada noite.
Um véu de espantos e traumatismos,
ossos quebrados e cantores ocultos.
Um piano que se dissolve na ionosfera,
e pregos que atravessam o sonho imaculado.
Um farrapo de destino e o golpe de um martelo,
são todas as metáforas para o assassinato.
Despencou a lua do céu azul-profundo,
como se a gravidade realmente se importasse.
Ela é apenas indiferente a nossas asas,
de anjos que se esqueceram de um céu convexo.
Partir por entre a arquitetura da escuridão
faz perder o senso do nunca mais.
Ignorar espécies no emaranhado de sintaxes
é ter certeza da intenção estar realmente oculta.
Pois não vim, muito menos cheguei aqui.
Estou dissolvido nessa imitação da noite
que mancha as pálpebras de quem quer sonhar.