ÚLTIMO RESPIRO!

Asfixiado por persuasões coercitivas que zuniam,

Eu, calado, enxugava prantos em noites frias.

Vivia a remoer sentimentos de um passado distante.

Não suportava sua repentina ausência.

Naquele tempo meu mundo era escuridão absoluta.

Cético quanto à vida, atirava-me ao lamaçal do vício.

A todo instante meu sonho em tê-la, era desfeito.

Sempre estava exposto ao desamor e não admitia.

Anos perdidos em tantas palavras escritas e ignoradas.

Tolas lembranças retratadas em míseras frases feitas,

Desprovidas da verdadeira sensatez que rege o amor.

Sua repugnância era explicita em todos os sentidos.

Faltava-me o brilho do olhar, do teu olhar.

Andei por ai, desandei, sempre a te procurar.

Qual insana busca sempre culminava em absoluto tédio.

Sofria agonizante num último respiro horripilante.

Quando sentia que poderia abrandar a dor e esquecê-la,

Sofria e respirava uma solitária lágrima solta no ar.

Em todas as manhãs, eu contava com teu vulto,

Para clarear os meus inseguros e obscuros dias.

Felizmente fiz-me forte frente ao descaminho,

Descobri-me alforriado pela felicidade de existir.

Aquela paixão doentia perdeu-se na poeira do tempo.

Desencantei-me ao saber-me tão decadente,

Dependente de utópicos pesadelos que evocavam o passado.

Foi-se a ternura do amor imaginário e masoquista.

O brilho do seu poder foi ofuscado pela indiferença.

Finalmente a razão imperou frente ao descaso.

Imbuído em readquirir a razão de minha existência,

Esqueci-me da autofagia indecorosa e respirei a vida.

Acordei feliz e beijei o manto azul do dia e fui retribuído.

Aspirei à aura da felicidade e vi-me iluminado pela bondade.

Ouvi-me a sorrir abismado, lá fora a vida acontecia.

Cansei de vaguear por mundos sombrios e enojantes,

Suplantei a taciturnidade adquirida ao longo da vida.

Esqueci-me de sua face, da indelicadeza de seus gestos;

Pude perceber sua falsa abstinência calcada no puritanismo.

Doe-me pensar que um dia entreguei-me às suas manobras.

Mirabolantes atitudes onde o sarcasmo era ofensa oficial.

Curei-me e desprendi-me de suas garras possessivas.

Hoje, a felicidade vem beijar-me a cada manhã que desabrocha.

Pressinto o sopro da liberdade fixar-se em meu olhar expressivo.

Adeus, Solidão; até outro dia, até outro livro que sirva de alívio

Para aplacar uma possível dor que venha a ser adquirida.

Se, algum dia, tentada pela saudade, voltar a flechar meu coração;

Verás que em mim, repousa o encanto da verdadeira paz.

Em meu antigo coração entristecido, renasceu o contentamento.

E assim a vida continua: amarga, todavia; saboreável...!

São Paulo, madrugada gelada de um mês qualquer.

Paulo Izael
Enviado por Paulo Izael em 23/08/2005
Reeditado em 23/08/2005
Código do texto: T44609