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"Talvez que o anjo esquecido,

O anjo da poesia,

Se tenha de mim perdido

Sem reparar que o fazia...

Por isso me faltam asas

E me sobejam as penas

De um desejo inalcançado:

Que eu gostava de voar

Até ao anjo perdido

O anjo de mim esquecido,

Que por mim é tão lembrado.

Ai se eu tivesse voado

Aonde queria voar

Não estava agora a rimar

Versos de asas cortadas.

Voava junto de si

Assim fico aonde me vê

Mesmo pregadinha ao chão

Com asas de papelão

E sem entender porquê.

Pois a uns faltam-lhe asas

Mas por ter asas cortadas

Sofrem uns e outros não?

Eu tenho sofrido muito

Nos meus voos ensaiados

Que ao querer sair do chão

Ficam-me os pés agarrados,

...E por falar dos pés

Com versos de pés quebrados

Perdoe lá a quem os fez

Pelo mal dos meus pecados

Só os fiz por timidez

Que tenho em me dirigir

A quem tem por lucidez

Razão para distinguir

O bom e o mau Português.

Assim à minha maneira

Aqui venho responder

Desta forma tão ligeira

Que a sério não pode ser!"

Amália Rodrigues
Enviado por Didinha Albuquerque em 30/08/2013
Código do texto: T4458316
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