Guardados

Olho dentro das minhas gavetas

ultrapassando a vontade

passando por emaranhados

com muitos minotauros

que só comem flores

e nunca me alcançam.

Um novelo marca o caminho

para não me esquecer

das ruelas que vivenciei...

Como se pudesse voltar do abismo

como se pudesse recuperar o ar

esta cicatriz que fica no peito

sempre sangra um pouco

mas já acostumei com a dor

até me esqueço dela.

Nas páginas do caminho

o fim do mundo

dará num mar enorme

pós caravelas

de além céu.

Entraremos num navio

navegaremos absortos

por todo esse espaço

e brindaremos

estaremos felizes.

A melodia ultrapassa

o imprevisível traço

e diz que vai além.

E que a bondade torta

também sobrevive,

e que os caminhos oblíquos

também ultrapassam o erro.

O coração tonal,

pulsando eternamente

dentro e fora da gaveta que habita.