elogio à saudade
saudade transita suave
pelos labirintos
da memória
lenta
submete defesas
no peito
campo devastado
deita
sementes estéreis
náufrago
espero
ela amarra
os dias
abraça
embala
no ritmo sereno
a erva escala
as paredes
confunde
extremo princípio
pulveriza
encantos desventuras
e evolui
da tristeza à ternura
branda adaptação
sombra nos olhos
no coração
dolorida e maldita
luz tênue
abriga
sentimentos abatidos
saudade grava
nas fendas feridas secretas
faz tempo
à sombra
recolhe
gravetos
esfrega
os olhos
no umbral
da janela
é esse tranco
no presente
do passado
amarra as pontas
a equação
ausência física
presença-sombra
certeza
do toque
na hora
certeza
da aposta
sem resposta
dias repetidos
iníquos
como tudo
só o tempo
desenrola
o tempo desenrola
o tempo
que enrola
esquecido
no meu canto
fecho
os olhos
sinto apenas
a caneta
entre os dedos
de resto
esse embrulho
no estômago
que digo -
saudade
erva daninha
que vai dar
no peito
em silêncio
implacável
onde
o verbo
treme
sem cerimônia
- até a estação mudar -
além da garganta
nos jatos da corrente sanguínea
é pressão
a epiderme
sente
as mãos trêmulas disfarçam
muda a estação
sempre muda
o novo vento vem e vai desfiar
a saudade
até o último
fiapo