IMPROMPTU
meus olhos são teu esperanto
confessa que lê-me as pupilas
e nada entendes
irredutível, esperas tanto
que não há horas que lhe paguem
a paciência que dás e vendes
senhora, não vês que foste vencida
pela língua que me fala apenas os olhos
e ainda resistes?
trabalho que vos consome a vida vivida
tornando-se a pobreza de tua carne,
por qual razão ainda insistes?
meu corpo não há de ser seu alfarrábio
nem laudas da tua religião
contrário, heresias...
por que não consultas os teus sábios
para que vos derramem urgentes preces
e te afoguem em homílias?
senhora, não vês que este é o fim?
mãe zelosa e presente de um natimorto!
não te iludas mais
posto o que procuras não há em mim
sou o fantasma do nada que te assombra,
sou a nau deserta abandonada no cais.