A CAVERNA
eis me aqui à entrada da caverna
de braços abertos para medir quão larga é sua boca
e me faltam braços...
inclino a cabeça dentro daquela escuridão eterna
de ouvidos aguçados mas minha audição é pouca
sobra espaço...
...me falta coragem de dar ordem às pernas
estas duas tão inseguras tampouco loucas
desaconselham-me os passos!
o que fazer então quando a vontade hiberna
e o corpo se entrega à uma calmaria barroca
que nos envolve em tensos laços?
quisera poder ousar, às cegas, sem lanterna,
enfrentar a imensidão, selvagem e rouca
que descreve a solidão em poucos traços,
e cresce como cria da hidra de lerna,
onipresente, estóica e mouca.
estufo o peito mas logo me desfaço,
quem sou eu senão a alma subalterna,
o velho trêmulo de meias e touca
a espera da morte um abraço?