DOR
Contemple a ausência.
É lá, onde a natureza desistiu de tudo
que enterro os resquícios da oração.
Entreguei a última agora a pouco,
enquanto desistia da fé e ainda assim
trazia em algum canto obscuro do peito
a crença sem nome que não me viu declinar.
Então, talvez nunca tenha gritado tão alto,
que pudesse colocar anjos e corvos em debandada.
Mas isso não importa quando a escuridão invade os olhos
e torna a noite apenas uma imensa impossibilidade.
O corpo adoece mas está alheio à inércia da mente.
E estando em chagas ainda assim é alento
porque ainda vivo espera pelo futuro.
Criar, para justificar o maligno
que envenena todas as horas pendentes.
Sempre retornarei pra você,
mas com quais ferimentos e estranhezas?
Só acredito nos tempos gélidos
que irão congelar minhas mãos.
Nunca mais então estarão postas
para conter a dor, este verme disforme
que se alimenta do amor por tantas coisas.