Rosa de Vidro
A rosa de vidro de meus sonhos
Desabrochou e partiu-se,
Uma chuva de pétalas de cristais
Despencou da cordilheira de minha alma
No éter da luz solar transluzindo os prismas
Produzindo um fantástico delírio multicor
Corri dentro de pensamentos
Para nadar na enxurrada de ilusões
Que corria na artéria da sarjeta da vida
Antes que ela desembocasse no fedor escuro de um abismo
Quando cheguei ao meu eixo
Não havia mais fluxo,
Não havia mais luz,
Não havia mais cores,
Apenas centenas de pétalas de vidro transparentes
Espalhadas as margens de mim
Numa tentativa de desespero
Cortei minhas mãos nas rebarbas de vidro
Dos cacos de meus sonhos,
Levantei-os acima de minha cabeça
Tentando expor-los a luz solar
Mas já era noite e o sangue de minhas mãos
Manchou os meus olhos
Minha visão turva contemplou o céu noturno
Pensando em um futuro iluminado
Por aquelas incontáveis luzes
Presas no manto negro da noite,
Mas essas luzes chegaram a mim
Já pertencendo ao passado,
Eram apenas fotografias sorridentes
Expostas na cabeceira do jazigo noturno
Para avivar a nostalgia – o epitáfio de imagens
Sons e cheiros de uma alegria melancólica
Desistindo, soltei as pétalas quebradas
De meus sonhos aos pés de minha vida,
Olhei para baixo e vi...
Vi a mim mesmo fragmentado
Com lágrimas de sangue nos olhos,
Vi centenas de pedaços de mim
Colados pelo sangue de minhas mãos.