A POESIA
Poesia sob encomenda não é poesia.
Poesia é matreira, sorrateira
Como erva daninha nos ladrilhos.
A poesia deve vir de onde
Menos se espera
E quando menos se espera,
Pois poesia é surpresa,
Poesia é como planar:
Nunca se sabe donde vem o vento
Ou para onde o vento leva.
Poesia marca a paisagem,
Como sinais de fumaça,
Desde os nossos ancestrais.
Poesia é como bocejo
Surgindo em hora imprópria,
Apropriando-se da gente,
Ou como espirro na biblioteca.
Poesia é dedo no olho,
É chiclete no sapato.
Poesia é tão desconcertante
Quanto fecho de calça
Que só emperra quando aberto
E nunca quando fechado.
Poesia é tão urgente
Quanto banheiro ocupado:
Não há rima que dê jeito!
Enfim, poesia verdadeira, para mim,
Deve nascer ao acaso
E ser persistente como capim
Nas frinchas das calçadas.