[Nos Umbrais da Paixão]
[Quando cedem as portas da Razão]
Um delírio, um medo essencial...
um acreditar, sem motivo,
no tema de um olhar que é só meu...
E pior: um modo de estar, sem ser,
no lugar onde eu não queria,
um lugar que nunca sonhei fosse meu
— o absurdo de um pesadelo
engendrado por reles contingências...
Rumino um modo interessante de ser nu —
enquanto caminho Avenida acima,
rasgar as roupas, deixar que vejam
o meu peito marcado por tantas lutas,
mas as minhas costas, limpas, sem cicatrizes,
como só acontece aos destemidos!
...E depois, sentar na sarjeta, abrir as veias,
deixar correr o sangue, pois — que ironia! —
o público o exige — espero que se intoxique!
Quero ser aquele andarilho da beira das estradas,
a figura apenas avistada no rápido vislumbre
pelos passageiros dos carros que passam
em alta velocidade — um motivo de asco, ou pena...
Mas afinal, o que me importa o que o mundo sente?!
E já que o nexo da vida é não ter ela nexo algum,
eu evito as sombras, caminho ao sol quente,
afinal, toda paixão carece de ser contemplada!
Caminhar ... seguir até esbarrar nos umbrais da loucura,
aqueles tão temidos limites que encerram a Razão —
Oh pesadelo de tantas noites,
por que me fustigas
assim, sem cessar?!
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[Desterro, nos Idos do ano 2000]
Uma razão para escrever: a poesia é fecha ligeira,
recebe o seu impulso do arco do peito do poeta...