A ARTE DO CÂNCER

a arte do câncer

e a farsa da morte

sem dor

causam lágrimas cênicas

antídoto a não-sorte

contra fato consumado

a não-dor

o que vejo, não engana

a execução de uma peça de grande porte

ensaiada às escuras de um sofrimento real

a pura dor

que não interessa enquanto Copacabana

mas apetitosa quando se faz Cubatão

a arte de sofrer

e a febre de expôr

a chaga aberta

aplaudiram teu sangue

vertido pela veia certa

a caudalosa

a onipresente

e assim que morreres,

verás sobre si a face desperta

de quem te conta os vermes

essa é a dor

que não lateja enquanto Ipanema

mas vitoriosa na miséria de ser Paquistão.