nos meus versos

nos meus versos quero destilar

a poesia viva de Augusto dos Anjos

dissecar cada célula de cada palavra

na química de um verso alucinado

nos meus versos quero mergulhar

nos sonhos mitológicos de Borges

devorar as palavras até os ossos

com minhas mandíbulas profanas

nos meus versos quero lutar

pela lucidez genuína de Neruda

coser cada um deles com ervas

colhidas no caminho da liberdade

nos últimos versos quero abusar

da insatisfação de Leminski

e, num verso impassível e completo

relatar o fim dessa aventura

do poeta, que não sou, apraz-me a aventura