O CANTO

Não cantarei amor,

ele não existe mais.

A honra, o imperador

assassinou no império.

Não cantarei virtude,

justiça ou heroísmo.

Não cantarei lealdade

nem compaixão.

Não cantarei inocência.

Estamos velhos,

foi embora a infância,

não cantarei.

São palavras obsoletas

gravadas no tempo

em livro incunábulo.

Eu cantarei o que resta:

Cantarei a noite

que veio vindo veio vindo e

estacionou. A noite

e tudo o que ela implica.

Cantarei a liberdade.

A liberdade que de tão

e demasiadamente liberta

tem construído prisão.

Cantarei a esperança

(esta, ainda que não reste)

A esperança que cansa

e que nada alcança.

Cantarei o agora

o agora hoje

e o agora com o amanhã

piscando o olho ao longe.

O amanhã que se desenha

num céu cada vez mais exposto.

E se meu cantar sugeri o futuro

sugeri o definitivo,

previsão não é.

É apenas o presente presente

vidro transparente e evidente,

que apresenta tudo

no espaço e na rua.

Kleiton Muniz
Enviado por Kleiton Muniz em 08/08/2013
Código do texto: T4424483
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