DEPRESSÃO
Sinto avançar a noite soturna
em pesadelo de acordado;
nada além da negritude
aplaca a dor que se esboça
em meu peito palpitante.
Nada além do silêncio
violado aqui e ali
por uivos distantes
e o ressonar profundo
dos que dormem.
Nada além da insegurança
de um corpo que não dorme
esvaído em medo inconseqüente
pinçado sei lá de onde,
talvez de um recôndito segredo.
De repente, uma reação súbita...
o primado do ser sobre o pensar
retoma a lógica das coisas
e supera a crise do poeta
que aos poucos aceita a sua prisão.
Jan. 1986