Yo no guste

 
 
O leite que roubastes
Das minhas santas tetas
Para alimentar os lábios impronunciáveis
Dos meninos brancos gordos
De sangue metálico
Sulfúrico
 
Deixou meus bezerros esfomeados
E o verde campo triste
E faminto
 
Não brotaram mais os cogumelos
Nos estercos
Nem nasceram mais os anuns
Nos seus ninhos de gravetos
Retorcidos  
E os capins foram devorados
Pelo sol
E pelas artérias do rio
Seco
 
O leite que tirastes
Da minha úbere imaculada
Para encher os plásticos da esteira
Do fordismo descontrolado
Reproduzindo o sistema sem sentimentos
Com o meu sangue
O alimento dos meus filhos
 
Deixando meus pássaros
E minhas metáforas
Esquálidas ressequidas
As mamas machucadas sugadas
Das minhas vacas
E das minhas estrelas notívagas
 
Mas o tempo vai cortar tua língua
E engolir tuas palavras vermelhas
E tuas prolixas polissílabas
 
 
A terra azul vai perturbar o reinado
Do anticristo
Com os poemas escritos no livro
Não engulo tuas promessas
E não temo a morte
Porque eu já morri
 
Mas aqui esta meu poema
Para perturbar tua alma
Escura.
 
 
                            Luiz Alfredo - poeta 
 
 
 
EVOLUÇÃO

 
Muito forte a célula
Que não quis ser apenas
Molécula mineral
Não quis ser apenas
Uma partícula de sal
Um ponto quase inerte
Numa pedra
Uma gota de verde
No sangue de um vegetal
 
Quis comer bolhas de ar
A ter vísceras
A procriar sem sementes
A se alimentar sem raízes
A viver docemente
 
Mais forte ainda
Quando não quis ter somente
Vísceras
E aprendeu a olhar
A construir com pontas
De pedras polidas
A ter cérebro para pensar
Contar estrelas
A fermentar as sementes douradas
De trigo
A voar como um pássaro
 
E a escrever poemas.
 
 
                     Luiz Alfredo - poeta
 
luiefmm
Enviado por luiefmm em 06/08/2013
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