[A Rua de Cima e a Rua de Baixo]

A minha rua era aquela Rua de Baixo,

e era assim, anódina, triste até...

mas então, eu sonhava em voar dali...

Mas por sorte, havia uma certa Rua de Cima,

e era tão grande, mas tão grande o mistério

de aquela rua existir acima da minha rua,

e de ela estar sempre, sempre além de mim,

que até hoje eu não deslindei!

Tudo, ou quase tudo,

ficava ou acontecia na Rua de Cima:

o Correio passava antes lá;

a buzina do leiteiro era ouvida antes lá;

para ver o desfile do circo recém chegado na cidade,

eu tinha correr para a Rua de Cima...

... E isto sem falar naquela suave menina

que morava na Rua de Cima,

e que me tirava o fôlego

com os seus olhares oblíquos

[só para mim, só para mim, eu pensava...]!

E para marcar de vez o desfavor das diferenças,

as enxurradas onde eu soltava os meus barquinhos,

a correnteza, de cuja fúria, numa certa tarde,

eu, a custo, salvei o meu gato Fio Campeão,

vinham — força de Lei da Natureza! — da Rua de Cima!

Dou um salto no Tempo, caio no Nada:

E se hoje os meus sonhos não têm asas

e nem viajam em barquinhos de papel,

é por que todas as minhas ruas são e estão

na monotonia de um limbo plano...

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[Desterro, 04 de agosto de 2013]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 04/08/2013
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